Blog onde compartilho minhas experiências sobre vinhos, viagens e gastronomia. Avaliação de vinhos. Penso que é importante, além de ser um arquivo pessoal, que o blog informe de forma correta os aspectos a que se propõe, como viagens e degustações de vinhos. Procuro ser sempre o mais preciso possível, pois já me servi de informações de outros blogs para viajar, conhecer pessoas e lugares. Não há a pretensão de esgotar os assuntos. Aproveite! E sejas sempre bem-vindo.
Instagram: vinhosqueprovo
A casta Trincadeira (ou Tinta Amarela) gera vinhos tintos de cor carregada, exalando frutas pretas, flores (violeta) e especiarias, mais vegetais quando a maturação é deficiente. No palato são encorpados, ricos em taninos finos, com boa acidez, e complexos. São ligeiramente alcoólicos e com boas condições para envelhecer bem em garrafa. É uma casta difícil, especialmente vigorosa, necessitando de refreio permanente e cuidados extremos no controle da produção.
O vinho de hoje é produzido com 100% da casta em questão, em Montemor-o-Novo, Alentejo, Portugal, sob os cuidados da enóloga alemã Dorina Lindemann.
Plansel Selecta 2012:
Um vinho de coloração rubi, límpido, lágrimas grossas e lentas.
Aroma de frutos vermelhos, ameixa madura, cassis, especiarias e tabaco. Evolui bem na taça, algo raro para um vinho mais simples.
Em boca confirma os aromas, bem presente o cassis, com corpo médio, taninos firmes, boa acidez. De média persistência. Um vinho moderno, fácil de beber e prazeroso.
Potente e elegante.
Muito bom, aliás, como é comum com os portugueses, eleitos pelas revistas e críticos internacionais como tendo alguns dos vinhos de melhor custo-benefício do mundo.
Estagia por 8 meses em barricas de carvalho francês.
Álcool a 15%
Importado para o Brasil pela Decanter, custa 92,95 reais no site da importadora.
Nota: 90 pontos
Vale a pena? Eu achei que sim, prove Portugal e o Alentejo!
O uruguaios estão entre os maiores consumidores de vinhos da América do Sul.
A sua uva emblemática, a Tannat, é mais gorda e aveludada do que a da sua terra natal na região de Madiran, na França.
Produz vinhos tânicos (como bem expressa o seu nome), escuros, concentrados, que podem ser bebidos com poucos anos de envelhecimento, diferentemente do original francês.
Muito frequentemente é cortada com outras cepas como Merlot ou Cabernet Sauvignon, para moderar a sua adstringência ou dar maior estrutura ao conjunto.
Vamos ao vinho?
Produzido pela Bodega Bouza do Uruguai em Melilla, Montevideo, com 100% Tannat.
Na taça um vermelho-púrpura com halo violáceo, denso, lágrimas grossas e lentas. Aroma vinoso, de compota de frutas vermelhas e especiarias. No palato é equilibrado, um vinho tânico, mas macio, de boa persistência. Vertical, típico, mostra firmeza e potência, como um bom Tannat. Não é um vinho para o dia-a-dia, é o que os italianos chamam de "vinho de pensar", meditativo, um vinho para ser apreciado aos poucos. Muito prazeroso.
Afinado por 18 meses em barricas novas de carvalho americano. Álcool a 15%
Esta garrafa é a de número 1493, de um total de 4314.
Não sei o preço. Sorry guys, mas essa ganhei por ocasião do meu aniversário.
Quem importa para o Brasil é a Decanter, de Blumenau.
Mais um post para o Zucca Gastrô. Desta vez o assunto é o uso de carvalho para a maturação dos vinhos. O assunto é extenso, mas nem por isso deixa de ser importante e prazeroso falar sobre ele. Acredito que, ao final, você poderá melhor perceber a importância do que foi exposto aqui, e também poder melhor apreciar uma taça com os amigos.
O hábitat
natural do carvalho é o hemisfério norte temperado e subtropical. Estas árvores vivem vários séculos –
algumas até mil anos, e atingem até 30
a50
metros. São cortadas para fazer barris quando tem de 150 a 250 anos (30 m altura e 80 cm diâmetro).
O uso deste tipo de madeira para armazenamento de bebidas foi uma invenção
dos gauleses (povo celta que habitava o território da atual França), no século III D.C. para transporte de vinho para Roma, em substituição às ânforas até então
empregadas.
O maior produtor mundial de carvalho é a América do Norte, com mais de 700 milhões de metros cúbicos. A França produz mais de 400 milhões de metros cúbicos.
Localização das principais florestas:
EUA: Oregon, Missouri,
Minnesota, Pensilvânia e Virgínia
FRANÇA: Limousin, Allier,
Vosges, Never e Tronçais
EUROPA DO LESTE: Hungria,
Lituânia, Rússia, Eslováquia e Ucrânia
O carvalho utilizado na produção de vinho pertence
ao gênero Quercus, de diferentes espécies: Súber,
Alba, Petrae e Robur.
Quercus súber, conhecido como
carvalho corticeiro ou sobreiro, é a árvore da qual se extrai a casca para
fazer rolhas.
Quercus alba é o carvalho branco originário da América, inicialmente
utilizado para envelhecer wisky e bourbons, e na atualidade muito utilizado para
maturar vinhos.
Quercus petrae e robur são os carvalhos vermelhos, originários da
França e sempre utilizados para maturar vinhos de qualidade.
O
Q. Alba possui uma maior porosidade (grão mais aberto) devido a sua maior
velocidade de crescimento e os petrae e robur são mais fechados. Por conta
disso, a barrica de carvalho americana é mais barata que a de carvalho francês.
A barrica é feita a partir de duelas que são idealmente fabricadas pela prática de “hendidura” ou rachadura, o que permite abrir a madeira acompanhando as nervuras naturais. (evita a comunicação entre o interno e o externo das duelas). As fibras da duela partida ficam intactas.
É
necessária uma secagem da madeira de 2 a
3 anos, no mínimo, para uma barrica de qualidade.
A
madeira sofre então 2 queimadas: Queima de Aquecimento,
que dura cerca de 25 a
30 min, para curvar as duelas, e a segunda chamada Queima
de Tostadura para liberar os componentes gustativos e aromáticos da
madeira:
São 4 os níveis de intensidade: Ligeira,
Média (M), Média Escura (M+) e Forte.
Mais usadas: M para os tintos e M+ para os brancos
Há interferência do gosto do vinhateiro e sua concepção para a escolha do tipo de barrica e sua tostadura? Claro! O famoso produtor Ângelo Gaja acha que o equilíbrio está com 40% do vinho em barrica nova e 60% em barrica de 1 ano, para os seus melhores vinhos.
Há que se destacar também que a profissão de Tanoeiro demanda sensibilidade e experiência, sendo muitíssimo valorizada pelas grandes vinícolas.
Muitos vídeos sobre Tanoaria estão disponíveis no youtube, mas quis destacar este, que dirige um outro olhar a esta antiga profissão:
Outros pontos importantes:
A vida útil de um barril, do ponto de vista da extração de aromas e aporte de taninos é de cerca de 3 anos.
Barris de carvalho têm alto custo e impacto direto no preço final de uma garrafa de vinho.
Foram identificadas mais de 60 substâncias que a madeira libera no vinho.
Compostos odoríferos mais importantes do carvalho não-tostado:
Lactona: madeira, côco e folhagem úmida de bosque (francês)
Eugenol: cravo e especiarias (francês e americano do Oregon)
Vanilina: baunilha (americano)
Observação: No carvalho Americano, os compostos de metiloctolactona e vanilina são quase iguais, determinando uma característica mais açucarada, com notas de côco e baunilha, menos complexas e delicadas.
Com o carvalho, o vinho sofre profundas modificações, ganha intensidade de cor, de taninos da madeira e compostos responsáveis pela complexidade aromática, (chamado de élevage em francês e crianza, em espanhol), pois é um meio de estabilização e de melhoramento da bebida.
Pois bem, mas como isso ocorre?
A porosidade da madeira determina intercâmbio entre o vinho e o oxigênio. O carvalho é levemente poroso, impermeável à líquidos, mas permeável a uma microoxigenação
controlada. Assim, podemos concluir que os vinhos
maturam em ambiente aeróbico e envelhecem na garrafa em ambiente anaeróbico, ok?
Esta microoxigenação leva à polimerização dos taninos, e, como consequência à uma diminuição da adstringência, produzindo vinhos mais aveludados. O que se quer com a oxigenação
controlada é diminuir o teor de CO2, levando a uma lenta evolução de compostos fenólicos para a
formação de aromas terciários.
A conclusão de tudo isso é que o armazenamento do vinho em barricas de carvalho determina a crucial relação do vinho com o oxigênio.
Mas, além disso, há uma modificação e estabilização da cor dos vinhos tintos, através da formação de copolímeros entre os antocianos
(pigmentos coloridos da casca da uva) com taninos da madeira
e com os taninos do vinho. Importante, não?
E quanto ao uso de "chips"? (lascas de carvalho misturados com o vinho). Isso existe também, claro. Eles funcionam para vinhos muito simples, de consumo imediato, que podem ganhar com esse aporte de aroma e sabor. Porém tendem a se perder depois de alguns meses do vinho engarrafado e não proporcionam a mesma qualidade das barricas, nem a microoxigenação.
Isto merece uma consideração. Uso de chips? Tudo bem, mas isso deveria ser descrito no rótulo do vinho, não? Os consumidores tem o direito de saber. É algo que precisa ser regulamentado sim.
Por fim, já passamos pela Era do Carvalho na produção de vinhos. Hoje o que se vê e o que se espera é que a essência da uva prevaleça, com vinhos com identidade e com diversidade.
Citando experts:
“A
madeira pode violentar o vinho; mas, como qualquer tempero, pode dar mais
qualidade a certos vinhos caso venha a combinar-se com eles harmoniosamente, em
vez de chamar toda a atenção para si mesma”.
Guido Rivella
“Num
bom vinho, tudo deve ser harmonioso; a qualidade sempre está vinculada a um
jogo sutil de equilíbrios de sabores e aromas.”
Émile Peynaud
Espero que este texto possa , de alguma forma, ajudar no prazer de degustar o vinho, nosso principal objetivo. Saúde!!!